Por que os atletas mentalizam? Ao tentarmos determinar por que atletas e praticantes de exercícios usam a mentalização, temos de diferenciar conteúdo de função. Conteúdo é o que a pessoa mentaliza (tal como sentir os músculos relaxados após um treino puxado), enquanto a função é o motivo pelo qual a pessoa mentaliza (tal como para sentir-se relaxada).
Portanto, ao discutirmos por que os indivíduos mentalizam, nosso foco é a função. Assim, Pavio (1985) fez uma distinção entre duas funções da mentalização: motivadora e cognitiva. Ele sugeriu que a mentalização desempenha papéis cognitivos e motivadores na mediação do comportamento, com cada um capaz de ser orientado para objetivos comportamentais gerais ou específicos.
No aspecto motivador específico (ME), as pessoas podem usar a mentalização para visualizar objetivos específicos e comportamentos orientados ao objetivo, tais como vencer determinado tomeio ou ser elogiado por bom desempenho. Na verdade, a mentalização pode ajudar o indivíduo a estabelecer metas específicas e, então, dedicar-se ao treinamento para atingi-las (Martin, Moritz e Hall, 1999).
Testes empíricos determinaram que a mentalização geral motivadora deve ser classificada em motivadora geral – de domínio (MG-D) e motivadora geral – de ativação (MG-A). Mentalizar um bom desempenho para manter a confiança é um exemplo de MG-D, e alcançar positividade e foco foram identifica-dos como um possível resultado de mentalização MG-D.
Mattie e Muntoe-Chandler (2012) verificaram que a mentalização MG-D era um elemento de previsão sólido e consistente de força mental. Usar a mentalização para “levantar o ânimo e aumentar a ativação” (Caudill, Weinberg e Jackson, 1983; Munroe et al., 2000) é um exemplo de MG-A, assim como empregá-la para ajudar a obter relaxamento e controle (Page, Sime e Nordell, 1999).
Ao pesquisar a eficácia desses tipos diferentes de mentalização motivacional, Nordin e Cumming (2008) descobriram que a mentalização ME funcionava melhor auxiliando os atletas a manter a confiança e a permanecer concentrados. Todos os três tipos de mentalização motivacional, porém, funcionaram para intensificar a motivação, sendo que a MG-A e a MG-D foram eficientes na regulação da ativação (como para levantar o ânimo e acalmar).
A mentalização cognitivo-específica (CE) concentra-se no desempenho de habilidades motoras especifi-cas, ao passo que a mentalização cognitivo-geral (CG) refere-se a ensaio de planos de partidas inteiras, estratégias de jogo e rotinas inerentes aos eventos competiti-vos. Na mesma linha, uma pesquisa (Nordin e Cumming, 2008) revelou que a mentalização CE foi classificada como mais eficaz na aprendizagem e desenvolvimento de habilidades, execução de habilidades e melhoria do desempenho. A mentalização CG foi classificada como mais eficiente na aprendizagem e desenvolvimento de estratégias, bem como em sua aplicação. Deve-se notar que esse treinamento mental deve suplementar e complementar o treinamento físico, e não o substituir.
Um estudo interessante de Short e Short (2005) demonstrou que a função de mentalização pode depender de cada atleta, ou seja, diferentes atletas veem a mesma imagem de forma diferente. Portanto, ao desenvolver um roteiro de mentalização, assegure-se de que o atleta entenda a função como facilitadora. Por exemplo, um atleta pode perceber a imagem de um ganhador de medalha de ouro olímpica mais como ameaçadora do que motivadora, porque se sente pressionado a ganhar uma medalha.
Fonte:
Weinberg, Robert; Gould, Daniel. Fundamentos da Psicologia do Esporte e do Exercício. 6. Ed. Porto Alegre: ARTMED, 2017. pág. 276 e 277.